Desafios contemporâneos da pesquisa em Arquitetura e Urbanismo foram discutidos por professores ligados à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (ANPARQ), durante a XIX Semana Viver Metrópole, promovida pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O debate concentrou-se em três principais: gênero; mudanças climáticas; e patrimônio arquitetônico e urbanístico. “O conhecimento gerado no interior da universidade só se justifica quando incorporado às demandas de grupos organizados ou não por meio da gestão pública e iniciativas sociais”, afirmou a professora do McKenzie Eunice Helena Abascal. “O grande desafio da pesquisa é detectar a emergência de novas modalidades de arranjos sociais para que se dê em teoria e método”, disse.
Evento contou com a participação da presidente do CAU Brasil e professora emérita da FAU Mackenzie, Nadia Somekh. Para ela, a importância do Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico deve ser observada a partir de perspectivas transversais, como o resgate dos vínculos e a preservação ambiental. Diante do momento de recessão democrática e desigualdade, essa percepção sobre o patrimônio permite a apropriação da cidade pela população. “O patrimônio remete a um compartilhamento e traz possibilidade de redução crescente das desigualdades na medida em que a população pode se apropriar do seu espaço, memória e história”, disse.
Nadia Somekh falou sobre as ações e debates relacionados ao tema que ajudou a desenvolver em diferentes espaços, como o IAB; o departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo – onde participou da criação das Jornadas de Patrimônio; e atualmente junto ao CAU Brasil. Nadia Somekh lembrou que o tema foi destaque na Carta aos Candidatos e Candidatas nas Eleições de 2022, projeto desenvolvido pelo CAU desde maio. Também é foco das Recomendações de Ouro Preto, produto do encontro de Patrimônio realizado em junho. “A sociedade ainda não reconhece a importância do trabalho do arquiteto e dos órgãos de patrimônio que fazem com que a cidade seja algo que pode construir o nosso futuro”, afirmou.
O professor Marcos José Carrilho refletiu sobre a abordagem e práticas de estudo do tema no curso e na disciplina de Arquitetura e Urbanismo da FAU/Mackenzie. Também fez observações sobre como o patrimônio vem sendo tratado em São Paulo. “Há três formas como uma cidade morre. A primeira é quando um inimigo a arrasa completamente. A segunda é quando um povo estrangeiro a ocupa a força. A terceira é quando os habitantes perdem a memória de si e sem se darem conta tornam-se estrangeiros de si mesmos. É o que parece acontecer em São Paulo”, disse. Na opinião do professor, não se pode atribuir a dilapidação das edificações e locais de memória da cidade exclusivamente à especulação imobiliária ou o setor imobiliário. “As regras e limites são estabelecidas pelos órgãos de planejamento da cidade proposto, em grande parte, por arquitetos planejadores”, afirmou, mencionando desafios para o trabalho dos arquitetos nesta função.
O eixo Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Local foi apresentado pela diretora da FAU Mackenzie, Angélica Alvim, e pelo ex-secretário de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo, Fernando de Melo Franco.
Angélica Alvim falou sobre as linhas de pesquisa que tratam da urbanização e meio ambiente. Também lembrou que a temática exige uma agenda urbano-ambiental capaz de atender aos pactos da Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Habitat III – 2016) e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas. “O ODSs perpassam todas as áreas de urbanismo”, observou. A professora também chamou a atenção para a necessidade de avanços nos planos diretores especialmente no que diz respeito às mudanças climáticas.
Fernando de Melo Franco, que também é professor da FAU Mackenzie, alertou para a necessidade de ressignificar os territórios como forma de restabelecer espaços comuns e compartilhados. Como exemplo, apresentou iniciativas do poder público e de organizações da sociedade civil dedicadas a mapear zonas rurais e fomentar a agricultura urbana na cidade de São Paulo.
O debate sobre o eixo de Gênero foi conduzido pelas professoras Ana Gabriela G. Lima, Programa de Pós-Graduação da FAU/Mackenzie, e Catherine Otondo, que também é presidente do CAU/SP.
Ana Gabriela G. Lima falou sobre sua pesquisa acadêmica no campo dos estudos de gênero e decolonialidade, em que estuda a representatividade e participação das mulheres desde a pesquisa e exercício da profissão na arquitetura até uso e decisão dos espaços públicos. Segundo a professora, as interações das mulheres costumam oferecer outras perspectivas e contribuições tanto nas pesquisas quanto nos espaços. “Não são contribuições tradicionais, formais, mas são essenciais no desenvolvimento da arquitetura e urbanismo”, afirmou. A pesquisadora apresentou resultados de pesquisas alinhados com a temática e desenvolvidas na FAU.
Catherine Otondo falou sobre a abordagem das temáticas de gênero nos Trabalhos Finais de Graduação e o esforço para instrumentalizar os alunos no que diz respeito à atividade projetual. “O TFG pode ser este lugar precioso que é a passagem para a pós-graduação e ampliação de discussões. Mas precisamos ampliar o caminho na esfera da projeção”, disse a professora. Presidente do CAU/SP, ela também fez um breve relato da experiência da chapa composta exclusivamente por mulheres eleita para a atual gestão.
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O Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo acontece a cada dois anos. A sétima edição está programada para os dias 7, 8, 9, 10 e 11 de novembro em formato on-line. Saiba mais
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