Novas formas de habitar o planeta foram o foco de discussão da primeira mesa de debates do Projeto Amazônia 2040, seminário realizado no Palácio Rio Negro, em Manaus. Evento promovido pelo CAU Brasil, pelo Fórum de Presidentes do CAU/UF e pelo Colegiado das Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas (CEAU) debateu, entre outros temas, o “Continente Amazônia: Paisagem, Território Brasileiro e Fronteiras”.
Primeiro debate contou com o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues; com a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Ana Cláudia Cardoso; e com o vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Rafael Passos. “Estamos abraçando esse projeto do CAU de levar ao Congresso Mundial de Arquitetos uma mensagem internacional por meio do Projeto Amazônia. Cada vez mais é flagrante como as mudanças climáticas afetam as pessoas e as cidades”, afirmou Rafael.
Segundo a professora Ana Cláudia Cardoso, existem na Amazônia uma sobreposição de diversas situações socioeconômicas, várias narrativas em disputa. “A gente pensa que a floresta é um território aberto, uma fronteira a ser descoberta, mas na verdade é fechada, com reservas indígenas e áreas de proteção ambiental”, disse.

“É uma paisagem ocupada há mais de 10.000 anos, por povos que não desejavam desenvolver civilizações como os incas. Havia rios manejados, um urbanismo de baixa densidade, várias tecnologias para se relacionar com floresta, provendo água, ar e vida.” Hoje, segundo a professora, o desafio é encontrar soluções para os novos meios de vida urbanos na floresta.
“Que repertório técnico vamos desenvolver para dar uma resposta para o século XXI? Como podemos estabelecer novas práticas sem reproduzir as relações de poder que aprendemos?”, questionou Ana Cláudia. “Os arquitetos de Manaus, por exemplo, podem trabalhar a produção das membranas e dos filtros urbanos que unem partes diferentes da cidade”, disse, referindo-se à diversidade socioeconônomica e cultural da capital amazonense.
O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, a discussão sobre sustentabilidade urbana precisa necessariamente passar por temas que extrapolam métodos tecnologias de projeto. “O desafio é civilizacional. A dinâmica da urbanização na Amazônia negam a humanidade e a cidadania”, afirmou. “Cidades deveriam abrir as possibilidades de futuro, mas hoje negam a cidadania.”

Como exemplo, Edmilson citou o caso da Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama), que foi privatizada no ano 2000. Na época, havia 100.000 manauaras sem acesso á água. Hoje esse número ultrapassa os 500.000. “Nossa formação socioespacial gerou uma dinâmica urbana que nos negam o exercício pleno da cidadania. Arquitetura e Urbanismo têm o objetivo de planejar os sistemas técnicos de modo que as pessoas possam efetivamente exercer a cidadania”, afirmou.
Para ele, a solução está em usar instrumentos legais já disponíveis, como o Estatuto da Metrópole, que permite a criação de consórcios de serviços intermunicipais. “Isso funciona no Sistema Único de Saúde. Nesses casos, os municípios são obrigados a fazer acordos para manter esse sistema. Em relação ao transporte e ao saneamento, não existe essa mesma percepção do interesse comum”.
“Há muitas soluções possíveis na Amazônia. Precisamos perder a vergonha de ser da Amazônia e fazer uma Arquitetura baseada na realidade local. Há de mudar corações e mentes, há de se mudar a cultura”, afirmou.
ACESSE A APRESENTAÇÃO DO PREFEITO DE BELÉM EDMILSON RODRIGUES
ACESSE A APRESENTAÇÃO DA PROFESSORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ ANA CLÁUDIA CARDOSO
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