O Ensino a Distância (EaD) e a qualidade da educação de arquitetos e urbanistas foram o tema da primeira mesa temática do Seminário de Formação, Atribuições e Atuação Profissional do CAU. Debate contou com a participação do coordenador da Comissão de Ensino e Formação do CAU Brasil, Valter Caldana; da presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA); e dos conselheiros Luiz Roberto Liza Curi e Anderson Luiz Bezerra da Silveira, do Conselho Nacional de Educação (CNE).
A presidente da ABEA, Ana Goes, apresentou os resultados de um levantamento sobre EaD na área de Arquitetura e Urbanismo. Hoje existem 43 instituições oferendo cursos EaD de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Na pesquisa, Ana Goes procurou vários exemplos de polos a distância, para ver o que encontrava sobre laboratórios, canteiros de obras, etc. Havia pólos funcionando em associações de moradores, garagens e até em bares.
“Fico imaginando como alguém pode dar aula de projeto nessas circunstâncias”, disse a presidente da ABEA. Além disso, o aluno pode ter encontros presenciais apenas uma vez a cada seis meses. São mais de 2.000 desses polos de ensino de Arquitetura e Urbanismo em funcionamento, com a possibilidade de ofertar até 4 milhões de vagas.
“Esse é um retrato do Brasil”, comentou o coordenador da Comissão de Ensino e Formação do CAU Brasil. “A distorção que se faz da política nacional de EaD prejudica o que poderia ser uma ferramenta valiosíssima. Esse tipo de uso da lei nos atrasa fortemente.”
Representando o Conselho Nacional de Educação, o sociólogo Luiz Roberto Liza Curi comentou sobre as prioridades do do órgão que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais nos cursos de Arquitetura e Urbanismo.
Segundo ele, o foco das diretrizes são as competências que os cursos ensinam aos seua alunos; e o princípio norteador é o do direito ao aprendizado e ao exercício profissional. “Nosso ponto de partida é o alcance do ensino. Precisamos superarmos a sala de aula para encontrar os espaços interativos nas instituições”, afirmou.
“Queremos 33% de matrículas entre os jovens de 18 a 24 anos. Hoje estamos em 22%. Crescemos 0,9% em 2020. E ainda temos uma altíssima taxa de evasão, chegando a 61%”, disse o conselheiro do CNE. “Ainda temos de 65% a 85% dos diplomados que não trabalham em nada relacionado à sua área de ensino.”
Sobre os exemplos mostrados pela presidente da ABEA, ele disse que essas práticas devem ser coibidas, em primeiro, lugar pela categoria de arquitetos e urbanistas, com um controle social eficiente. “Muitas vezes isso também ocorre com cursos presenciais, principalmente em cursos noturnos”.
Para o conselheiro do CNE Anderson Luiz da Bezerra da Silveira, o problema não está na modalidade, mas na qualidade. “Não importa se o curso é presencial ou não. O que importa é se ele é bom ou não. O próprio mercado, os empregados, podem ser excelentes filtros nesse processo”, disse.
Ele reforçou que as Diretrizes Curriculares Nacionais são um estímulo à criatividade pedagógica da instituição, não uma determinação de padrão. “Apostamos no desenvolvimento de habilidades e competências, de profissionais criativos e inovadores”.
Representantes do Colegiado das Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas (CEAU) também apresentaram seus posicionamentos sobre o tema. A presidente do IAB, Maria Elisa Baptista, destacou a característica humanista da formação profissional. “Nós praticamos um ofício entranhado na realidade, com aporte de vários campos de conhecimento. Nós somos agentes para mudar o mundo”, disse.
Para a presidente da FNA, Eleonora Mascia, a mercantilização da educação traz prejuízos também para os professores. “Precisamos estimular a valorização do trabalho daqueles que ensinam e também daqueles que são formados”, afirmou. O presidente da AsBEA, Danilo Batista, destacou a importância da formação continuada. “Nos escritórios, nós às vezes sofremos com os egressos, porque eles chegam muito pouco preparados para lidar com as rotinas da profissão”, disse.
Representando os estudantes de Arquitetura e Urbanismo, o diretor da FeNEA Luccas Brito destacou que existe uma urgência pela mudança na formação do arquiteto e urbanista. “Espero que os futuros profissionais saiam sabendo projetar casas, prédios, parques e cidades, mas também capacitados e conscientizados do seu papel transformador na sociedade”, disse.
O conselheiro do CAU Brasil Valter Caldana ressaltou o papel essencial das diretrizes curriculares para aproximar os arquitetos e urbanistas dos desafios da sociedade brasileira. “Discussão sobre formação dentro do CAU é de executar a nossa responsabilidade legal quanto às Diretrizes Curriculares Nacionais”, disse.
Por fim, o conselheiro lembrou das diversas iniciativas do CAU na área. “O CAU tem políticas para a pré-graduação, como o CAU Educa, e cursos de formação continuada, como o programa de ATHIS e os descontos de anuidades para jovens arquitetos”, afirmou.