Consciência Negra

Reflexões sobre racismo e equidade marcam Encontro da Diversidade do CAU/BR

Imagem: Ascom | CAU/BR

 

Encerrando as atividades do mês da Consciência Negra, o III Encontro da Diversidade do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR) promoveu, nos dias 21 e 22 de novembro, reflexões sobre racismo estrutural e equidade na arquitetura e urbanismo. Realizado na Faculdade de Arquitetura da UFBA, em Salvador, o evento reuniu acadêmicos, especialistas e conselheiros de diversas regiões do país.

Um dos destaques foi a mesa de debates sobre racismo estrutural mediada por Thaís Borges (SP). A arquiteta Nathália Pedrozo Gomes (CAU/RS), do Coletivo Encruzilhada, abordou a atuação do LAB, iniciativa que discute relações étnico-raciais no contexto urbano. Gomes apontou a escassez de pesquisas acadêmicas sobre o tema. “Em mais de 50 anos, o Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (Propur) produziu apenas cinco dissertações sobre questões étnico-raciais. Não há nenhuma tese. Somos os primeiros discentes negros do programa, e não há docentes negros”.

“Em 2021, o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFPA aprovou sua primeira dissertação que relaciona planejamento urbano com questões étnico-raciais, evidenciando como desigualdades territoriais ampliam os riscos climáticos e sociais para a população negra e pobre”, destacou .Ana Clara (CAU/PA), do coletivo Quintas Pretas.

Perspectivas no âmbito do CAU

Outro destaque foi o painel “Perspectiva enquanto Conselho”, mediado por Ronaldo Carvalho (AP), trouxe ações de diferentes estados. A conselheira estadual Melyssa Maila (SP) apresentou iniciativas da Comissão de Políticas Afirmativas (CPA) do CAU/SP, como a criação de uma Câmara Temática sobre Diversidade e parcerias com instituições como o Museu de Culturas Indígenas e o Afromobi.

Sherlen Borges, da Comissão Temporária de Políticas Afirmativas do CAU/RS, sugeriu emendas ao Código de Ética e Disciplina do CAU/BR para vedar qualquer forma de preconceito e discriminação, além de incentivar temas sociais em trabalhos acadêmicos. Eliete Alves de Lima, da Comissão Temporária de Políticas Afirmativas (CTPA) do CAU/AC, informou que a UF desenvolveu um questionário de Censo Diagnóstico sobre a atuação de arquitetos e urbanistas no estado do Acre, enquanto Alyne Fernanda Cardoso Reis (CAU/RJ) apontou, entre outros, iniciativas relacionadas à raça e assédio no ambiente de trabalho.

Durante a mesa de debates foi enfatizada a importância de um trabalho de articulação nacional para a criação de uma Câmara Temática de Diversidade e Inclusão. A coordenadora da CPA-CAU/BR, Josemée Gomes de Lima, destacou a meta de criar a Câmara Temática de Diversidade e Inclusão em 2025, com o objetivo de expandir a política afirmativa nacionalmente.

Troca internacional e laços com a África

A mesa sobre Cidades Africanas reuniu pesquisadores como Rémy Ganga (França-Congo), Kadya Tall (França-Senegal) e Romual Tchibozo (Benin), que discutiram aspectos religiosos, sociais e políticos dos territórios africanos e sua relevância para o urbanismo.

A antropóloga Kadya Tall destacou os cultos tradicionais como agentes de reivindicação social e política. O professor de História da Arte de Benin, Romual Tchibozo, apresentou as arquiteturas simbólicas do Benin, como a casa do chefe do culto Mami Wata (Mãe das Águas). O diretor da Casa da Nigéria, Misbah Akkani, destacou a contribuição cultural dos ancestrais africanos, exemplificada pelo acarajé.

Encerrando o evento, a palestra magna ”Imaginários Espaciais em Disputa” abordou a memória e a representação afrodiaspórica na arquitetura. Mediada pela conselheira Cristiane Rodrigues (CE), o tema foi abordado pelos arquitetos e urbanistas Danielle Santana (IAB-RJ) e Marllon Sevilha.

Dicas de leitura sugeridas durante o evento:

  • Ancestralidade Afro-brasileira: O Omo Ilê Agboulá, um Templo do Culto aos Egum no Brasil
  • Arquitetas Negras: Volume I
  • Arquiteturas dos Quilombos da Bahia: território, natureza, tempo, cultura, etnicidade

O III Encontro da Diversidade do CAU reafirmou o papel da arquitetura na luta contra desigualdades e na construção de espaços mais inclusivos. A íntegra do evento pode ser acessada no canal do CAU/BR no YouTube.

Acesse também as fotos do evento.

MAIS SOBRE: Consciência Negra

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Consciência Negra: o impacto da representatividade negra na arquitetura

Pular para o conteúdo