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Rosa Kliass: “o arquiteto paisagista tem síndrome de Deus, porque cria paisagens”

Apesar de seus 86 anos, Rosa Grena Kliass segue em plena atividade em seu campo de atuação: o paisagismo. Conhecida como a pioneira na área no Brasil, Rosa Kliass foi uma das fundadoras da Abap (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas).

 

Juntamente com Miranda Magnoli, foram as únicas mulheres a se formarem na turma de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) de 1955. No último ano do curso, teve contato com a disciplina de paisagismo, ministrada pelo norte-americano Roberto Coelho Cardozo, que estava no Brasil trabalhando com Burle Marx. Segundo Kliass, as aulas com Roberto Coelho fizeram com que ela e Miranda entendessem que aquela era sua missão e, assim, inventaram seu próprio mercado. “Paisagismo no Brasil era somente o [Roberto] Burle Marx, que ficava no Rio”, lembra a arquiteta.

Arquiteta, urbanista e paisagista Rosa Kliass, conhecida como a “dama do paisagismo brasileiro. Foto: Marcelo Scandaroli/ArchDaily.

Em 1958, três anos após sua formatura, nasceu o primeiro grande projeto, o Largo dos Mendes, em sua cidade natal São Roque – São Paulo.

 

A partir da década de 1960, Rosa inicia trabalhos pioneiros nas cidades de Curitiba (PR) e São Paulo (SP) a projetar os planos urbanísticos e paisagísticos das duas cidades, com o levantamento das áreas verdes para a definição dos grandes parques, das reservas naturais e a manutenção das beiras dos rios. “Digo que o arquiteto paisagista tem síndrome de Deus, porque cria lugares, cria paisagens. ”

 

Kliass destacou-se pelos projetos paisagísticos para a Avenida Paulista (1973), a revitalização do Vale do Anhangabaú (1981), ambos em São Paulo, e mais recentemente, pelas obras em grande escala para os Estados do Amapá (Parque do Forte) e do Pará (Mangal das Garças), no início dos anos 2000. Ainda em São Paulo, o projeto paisagístico para o Parque da Juventude (inaugurado em 2003 e concluído em 2007), na capital, foi premiado pela Bienal de Arquitetura de Quito em 2004, uma das muitas premiações de sua carreira.

 

Em São Paulo de 1966, na gestão do prefeito Faria Lima, foi convidada para projetar o Parque Morumbi, que nunca foi executado. Nesta ocasião instituiu um grupo de paisagistas dentro da prefeitura e, junto com Miranda Magnoli, convenceu o prefeito a criar o Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de São Paulo, desenvolvendo o Plano de Áreas Verdes, com projetos destinados a quarenta e quatro praças, entre elas os projetos executados para a Praça Benedito Calixto e Praça Pôr-do-sol.

 

Revitalização do Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Projeto paisagístico de Rosa Kliass. Foto: Cortesia da Cidade de São Paulo/ArchDaily.

 

Por esses e outros projetos de grande importância, em 2016 a paisagista foi agraciada com o título de “Cidadã Paulistana”, pela Câmara Municipal da cidade. Rosa Kliass foi vice-presidente da Região Ocidental (Américas) da IFLA (Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas).

 

Além da ABAP, ela foi a criadora do Encontro Nacional de Professores de Paisagismo nas Escolas de Arquitetura. Hoje, Kliass acredita que a profissão de paisagista já é reconhecida, mas só será verdadeiramente valorizada quando existir uma graduação apenas de paisagismo. “Já temos vários cursos de Paisagismo em nível de pós-graduação e temos arquitetos urbanistas com especialização em Paisagismo. Só teremos uma profissão, propriamente dita, quando tivermos uma graduação. ”

 

Confira a série de entrevistas que o CAU/BR fez com Rosa Kliass em 2014:

Por Beatriz Castro, estagiária, com supervisão de Julio Moreno. 

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