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Rumo a Copenhague: Seminário do CEAU debate propostas para a UIA2023CPH

 

O Colegiado de Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas (CEAU) do CAU Brasil promoveu seu seminário anual com o objetivo de levar propostas de sustentabilidade para o 28° Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2023CPH). O evento acontece entre os dias 2 e 6 de julho do ano que vem, na cidade de Copenhague, na Dinamarca.

 

Com o tema “Futuros Sustentáveis: Não deixe ninguém para trás”, o Seminário do CEAU reuniu reuniu diferentes visões dos profissionais ligados às entidades nacionais representativas de arquitetos e urbanistas: Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA), Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA), Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) e Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (FeNEA).

 

A presidente do IAB, Maria Elisa Baptista, e a presidente da FNA, Eleonora Mascia, com a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh (em pé)

 

“É um debate de arquitetas e arquitetos que atuam nas entidades, falando sobre a construção de uma agenda para futuros sustentáveis”, afirmou a presidente da FNA e coordenadora do CEAU, Eleonora Mascia. “Vamos levar propostas e contribuições ao Congresso Mundial em 2023 e fazer um balanço das ações que fizemos sobre a Agenda 2030.” Seminário foi realizado na sede do CAU/RJ no Rio de Janeiro, e marcou o fim da gestão de Eleonora Mascia como coordenadora do CEAU. No ano que vem a coordenação será assumida pela presidente do IAB, Maria Elisa Baptista.

 

AÇÕES BRASILEIRAS EM COPENHAGE

“É uma alegria compartilhar essa atuação em Copenhague com o CAU Brasil e com as entidades de arquitetos e arquitetas”, afirmou Maria Elisa, lembrando que a representação brasileira na União Internacional de Arquitetos (UIA) cabe ao IAB. “Vamos ter poucos palestrantes sul-americanos, e por isso nossa participação é ainda mais importante”, disse. O IAB também montará um stand com trabalhos de arquitetos e urbanistas brasileiros, com destaque para a sustentabilidade.

 

Mediação dos debates ficou a cargo do diretor da ABEA, Carlos Eduardo Nunes Ferreira

 

A presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh, destacou a importância da atuação de arquitetas e arquitetos no combate às mudanças climáticas. “Nossa tarefa de pensar o planeta, e também a humanidade, está sendo debatida com seis conferencistas e conteudistas. Eles vão trazer elementos para construir coletivamente a nossa participação em Copenhague”, afirmou. O Seminário do CEAU contou com a participação de arquitetos e arquitetas que pesquisam e atuam com a temática ambiental em áreas distintas.

 

A primeira apresentação foi da professora Ana Claudia Duarte Cardoso, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Seu trabalho busca entender outros processos de ocupação humana mais conectados ao ecossistema. “Podemos ver uma possibilidade de futuro se pudermos aceitar que um padrão metropolitano pode ter interstícios verdes entre seus núcleos”, disse, citando exemplo as cidades de Belém e Manaus. “Há pessoas que conseguem articular esses mundos de cidade e natureza. Povos periféricos dependem da manutenção do ecossistema para sua subsistência”, afirmou. “Existem corredores de povoados na Amazônia em que a matriz é a floresta, ela é a infraestrutura que conecta as pessoas”.

 

A professora da UFPA Ana Claudia Duarte Cardoso busca entender processos de ocupação humana mais conectados ao ecossistema

 

PAPEL DOS ARQUITETOS E URBANISTAS

Cid Blanco, consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) e de bancos de fomento, disse que ainda hoje existe uma dificuldade muito grande entre os arquitetos para entender seu papel no tema da sustentabilidade. “Estão olhando o quadradinho onde estão projetando, e não o impacto que essas obras menores causam. É preciso aprender, pesquisar. Não se muda da noite para o dia aquilo que estamos fazendo há 30 anos”, disse. “Porém, existe uma nova geração de arquitetos pensando fora da caixinha, integrando outros saberes, criando novas formas de trabalho conjunto”. Para ele, a pandemia mexeu com as percepções das pessoas e mostrou a urgência de diversos problemas sociais, em especial quanto à moradia. “Os governos acordaram para a necessidade da melhoria habitacional. A Assistência Téncica em Habitação de Interesse Social nunca esteve tão em voga.”

 

O mediador Carlos Eduardo Nunes Ferreira com os professores Ana Claudia Duarte Cardoso e Nivaldo Vieira de Andrade e o consultor Cid Blanco

 

O professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Nivaldo Andrade, falou sobre a questão do patrimônio histórico. Partindo do incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 2018, ele fez um convite à reconstrução da memória do povo brasileiro. “O incêndio do Museu Nacional foi uma das maiores tragédias patrimônio brasileiros. O grande desafio é que Museu Nacional vamos querer construir agora”, questionou. “A crise é uma oportunidade de reconstrução, uma reconstrução mais representativa da nossa diversidade cultural.”

 

Ele lembrou a questão do Centro Histórico de Salvador. São mais de 1.500 imóveis em ruínas e 1.100 imóveis sem uso numa área tombada como Patrimônio Cultural. “Podia ser habitação social, habitação comercial”, disse. “Centros não serão recuperados com turismo, tem que ter moradia. Há um preconceito enorme de que pobre não pode morar no Centro Histórico. Há que se encontrar os mecanismos para se viabilizar isso.”

 

Os arquitetos e urbanistas Nivaldo de Andrade e Cid Blanco

 

SISTEMA DE PARQUES

Luciana Schenk, secretária-executiva da Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas das Américas (IFLA Americas), apresentou um estudo para a implantação de parques em São Carlos (SP). Mostrando imagens de enchentes na cidade, ela criticou a estratégia baseada na construção de ‘piscinões’ para conter a água das chuvas. “Estamos perdendo a oportunidade de esverdear a cidade, de torná-la mais permeável, de transformar esses lugares em locais de encontro”, disse.

 

O Grupo de Trabalho de Planejamento de Parques Urbanos de São Carlos (GTPU), da qual Luciana faz parte, apresentou propostas de um Sistema de Parques e de Política de Arborização Urbana. “São cenários para começar um diálogo com a população”, disse. “É um processo de projeto em uma cidade de 250.000 habitantes, mostrando a contribuição que a Arquitetura da Paisagem pode oferecer”.

 

Luciana Schenk (ao centro) apresenta propostas para parques em São Carlos (SP)

 

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Fernando de Souza Leão Andrade apontou para um falso antagonismo entre desenvolvimento e preservação. “As cidades crescem e se preservam. Esses conflitos são ínfimos se comparado ao tamanho das cidades”, afirmou. Para ele, é preciso avançar no debate sobre quais são os valores que devem ser preservados na Arquietura e Urbanismo. “Quando se fala em paisagem cultural urbana, temos que consensuar quais são os valores que pretendemos preservar dentro da paisagem.”

 

A vereadora do Rio de Janeiro Tainá de Paula falou da sua participação na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27), realizada em novembro deste ano na cidade de Sharm El-Sheikh (Egito). Segundo ela, os países desenvovidos foram cobrados a fazer investimentos de resiliência urbana emm todo o mundo. “Precisamos vocalizar que os países da América Latina não terão dinheiro para implementar as respostas das mudanças climáticas que foram implementadas pelos países do Norte”, disse.

 

O professor da UFRJ e ex-conselheiro do CAU Brasil Carlos Fernando de Souza Leão Andrade

 

BRASIL NA COP27

“Nosso trabalho pensou muito nos povos originários, povos quilombolas e a contribuição urbana a uma nova agenda climática”, contou. “Fiz um recorte muito cirúrgico a partir das favelas. Com o tema ‘para cada favela uma floresta’, inserimos a agenda das florestas no espectro das favelas e estabelece um plano estratégico de mitigação e enfrentamento á emergência climática no território”.

 

A professora da Universidade de Brasília Liza Andrade trouxe temas como a incorporação de saberes da Arquitetura Vernacular, democracia participativa nos assentos informais e inovação tecnológica no processo do saneamento. “Falta a visão do habitat, que vai interligar a produção do abrigo com ao acesso a água, produção de comida e tratamento dos resíduos”, afirmou.

 

Veradora do Rio de Janeiro Tainá de Paula falou da sua participação na COP27, no Egito

 

Coordenadora de uma residência técnica em ATHIS, a professora defendeu que, para além das melhorias habitacionais, é preciso pensar na assessoria descentralizada, de equacionar melhor a resolução de conflitos fundiários, as práticas de resistência e o trabalho transdisciplinar.

 

Ao final do Seminário, a presidente do CAU Brasil ressaltou que os arquitetos e urbanistas brasileiro vão propor um amplo debate no UIA 2023CPH. “Processos históricos, apropriações e como enxergamos a nossa realidade em interlocução com os demais países. Vamos discutir o que vamos fazer com o nosso planeta, em conjunto”, disse Nadia Somekh. A presidente do IAB, Maria Elisa Baptista, ressaltou a importância da negociação política. “Precisamos de diálogo, conversar, conversar e conversar”.

 

Confira a íntegra do Seminário “Futuros sustentáveis – Não deixe ninguém para trás”

 

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