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Seminário de Conservação do Patrimônio discute embate entre passado e presente

 

O Seminário Internacional Patrimônio x Cidade – Os Desafios da Sustentabilidade, promovido pelo CAU/RR em parceria com a Universidade Federal de Roraima e apoio da Comissão de Política Urbana e Ambiental do CAU/BR, contou com uma palestra da professora Maria Adélia de Souza, do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da USP. Por meio de conceitos criados pelo geógrafo Milton Santos, teórico brasileiro que recebeu inúmeras distinções, entre elas a de Personalidade do Ano, concedida pelo IAB em 1997.

 

“Qual a o passado que queremos preservar para o futuro? Qual memória queremos preservar?”, questionou Maria Adélia, resgatando o conceito de “rugosidades”, criado por Milton Santos, que propõe uma reflexão sobre se os resíduos do passado são um obstáculo à definição do novo ou se juntos encontram a maneira de permitir ações simultâneas. “Tais questões introduzem um aspecto que diz respeito ao que se deve preservar e conservar no mundo novo”, afirmou a professora no evento. Segundo Milton Santos, “o espaço geográfico tem um papel privilegiado, uma vez que ele cristaliza os movimentos anteriores e é o lugar de encontro entre esse passado e o futuro, mediante as relações sociais do presente que nele se realizam”. Ou seja, as rugosidades também aparecem como a criação de consciência de uma época.

 

Apresentação da professora Maria Adélia Souza (à direita na foto) no Seminário Internacional de Conservação do Patrimônio, em Boa Vista (RR)

 

Uma questão fundamental é que o território só existe quando usado, praticado. “Não tenho nada contra preservar a forma, mas é preciso que a obra se mantenha viva”, disse. Para Maria Adélia, o processo de definição do Patrimônio Histórico sempre foi contemplativo com relação aos objetos preservados e precisa ampliar a possibilidade dos sujeitos que o contemplam. Outro autor citado na palestra foi o filósofo espanhol Josep Ramoneda, em um texto que fez para o catálogo da exposição sobre a cidade, realizado em Paris em 1994 no Centro George Pompidou. Diz ele: “o planejador, o urbanista ou o político, olha a cidade como um plano sobre o qual se intervém e, quando ele se depara com as rugosidades da realidade, eles a destroem ou a detestam”.

 

Maria Adélia destaca que a emergência dos movimentos sociais e populares transforma a ideia que temos sobre Patrimônio Histórico. “Por isso trouxemos o turismo à baila, pois o argumento de preservação, conservação está sempre ligado as suas práticas. Mas sabemos todos que ele apresenta pelo menos dois limites nos países pobres e não soberanos: a sua faceta depredatória e seu processo segregador da fruição, para muitos”, afirma.

 

Foto principal: Da esquerda para a direita: Jorge Romano Netto (presidente do CAU/RR); Wilson de Andrade (coordenador da CPUA-CAU/BR); a profesora Maria Adélia de Souza (USP); Jefferson de Souza (conselheiro da CPUA-CAU/BR); Márcia Guerrante (conselheira da CPUA-CAU/BR); e Isabela Müller (analista da CPUA-CAU/BR)

Uma resposta

  1. Deveriam aproveitar o Seminário e debater, também, a legislação atual do IPHAEP-PARAÍBA que em muitos casos está em desacordo com o que vem acontecendo ao redor do Brasil e, sobretudo, do mundo. Onde a inflexibilidade do referido órgão acaba por forçar os proprietários de bens tombados a abandonarem seus referidos imóveis até que os mesmos sejam totalmente destruídos pelas ações do tempo e do vandalismo. Temos vários exemplos bem sucedidos até mesmo aqui próximo, em Recife, onde construções de elevado valor histórico, porém degradadas, são restauradas observando a necessidade real do momento atual em que se encontra. Não se pode de forma alguma abraçar o “falso histórico” como forma de restauração como muitas vezes estão fazendo aqui na Paraíba com a anuência do IPHAEP. Deve-se permitir que conceitos como o de Cesare Brandi, por exemplo, sejam aceitos para que possamos trazer de volta esses imóveis ao uso da comunidade, respeitando suas características históricas ainda existentes, porém, permitindo que se façam ajustes para que o mesmo tenho uso apropriado ao que se necessita hoje.

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