CAU/BR

Seminário defende educação cidadã para construir cidades para todos

A importância da formação do cidadão na construção de cidades melhores foi o tema abordado no contexto da educação urbanística, durante o I Seminário de Urbanismo do CAU/BR, realizado dia 10. Um dos caminhos para que as cidades se tornem espaços de convivência saudável, de encontros, de produção e compartilhamento do conhecimento a partir da educação é levar a Arquitetura e Urbanismo para as escolas, principalmente, de crianças e adolescentes.

 

 

No sentido horário: As arquitetas e urbanistas Simone Sayegh, Josélia Alves e Maria Elisa

 

 

No debate, mediado pela conselheira do CAU/BR Josélia Alves, essa proposição foi defendida pelas arquitetas e urbanistas Simone Sayegh e Maria Elisa Baptista, que ressaltaram, ainda, a importância da educação para a efetivação da cidadania. Para Maria Elisa, eleita este ano a primeira mulher presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) Nacional, falar de educação é buscar a beleza e a construção da liberdade e isso deveria ser possível na cidade.

 

 

“No lugar da liberdade, a cidade é o local do acordo e por isso mesmo do confronto e da dissidência, e esse território, onde as políticas de habitação, mobilidade e saneamento acontecem e as políticas de educação e saúde se concretizam, é onde os direitos abstratos de realizam. E mais do que isso: é o lugar onde a consciência, a reivindicação e a luta por esses direitos tomam forma e isso não é pouca coisa”, defende Maria Elisa.

 

 

EDUCAR AS PESSOAS

A educação para a construção de cidades melhores, na concepção de Maria Elisa deve ser um instrumento para a generosidade e para a compreensão de que o Planeta, o espaço e o tempo são finitos e que há uma generosidade que concebe cidades republicanas, onde seus moradores e visitantes são cidadãos. Educar para a cidade, segundo ela, é também produzir e compartilhar conhecimento; colaborar com as forças e os agentes que constroem as cidades; desmistificar o que parece inevitável ou auto explicado; derrubar preconceitos; denunciar o abuso, a incompetência e o descaso; ampliar o horizonte dos direitos e exigir que a terra seja de todos.

 

 

É, também, segundo sua análise, libertar a criatividade e a capacidade de invenção que temos, é descobrir a alegria do trabalho compartilhado, abrir espaço para o lúdico, o divertido e o inusitado. “É falar em respirar e ter esperança. Para isso temos que alçar mais alto as nossas expectativas como coragem e sabedoria, acreditar que o novo sempre vem e que tempos melhores hão de vir, e que as cidades podem ser lugares em que o corpo humano, dotado de memória, habite com alegria”, acredita.

 

 

A arquiteta e urbanista Simone Sayegh defende que a cidade para todos deve ser construída visando melhorias que proporcionem aos idosos, cadeirantes e crianças possibilidades de estarem e se encontrarem nesse território. Para ela, que também é pedagoga, pós graduanda em Neurociência e membro do GT Infância, Juventude, Cidade, Educação, do IAB-SP, as escolas são um cenário propício como para o estudo do Urbanismo e da cidade em várias disciplinas. E pensar a cidade é algo do arquiteto, do urbanista, da mãe da criança, da professora, da moradora da cidade, enfim, de todos, e esse pensamento pode ser educado e refinado com a finalidade de despertar a noção de cidade e de entorno dentro das escolas, das associações e espaços afins.

 

 

“Escutar a criança é trazê-la para perto do arquiteto, do gestor e, principalmente, trazer a família. Então quando você olha para a criança também está olhando para a família. Trazer a comunidade para perto, para decidir o que é melhor para ela naquele seu pedaço de cidade é muito importante”, reconhece Simone, que destaca a importância de se unir as vivências de teorias e técnicas de cada um dos envolvidos no desenvolvimento da cidade.

 

 

“As crianças brincam em qualquer espaço”, afirma Simone Saygeh. Foto: www.odemocrata.com.br

 

 

A Arquitetura no ensino fundamental é um desafio apontado por Simone, mas que passa, principalmente, pelo entendimento da equipe pedagógica sobre a importância do urbano e da cidade entrarem na escola e depois levar esse aprendizado para fora do espaço escolar. Na sua avaliação, as crianças têm mais facilidade em compreender esse processo porque “adoram sair da escola e conhecer a dinâmica do bairro”, pois querem o encontro e existir.
Para Simone, uma estratégia que pode ser adotada pelo arquiteto e urbanista é fazer esse link entre a equipe pedagógica, os alunos e a comunidade, mostrando o papel da sua profissão e o que ele pode mudar na cidade a partir das suas habilidades.

 

 

FORMAÇÃO DE ARQUITETOS E URBANISTAS

Ao final dessa etapa do I Seminário e em resposta a um dos participantes do público, a arquiteta Maria Elisa, que também é professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas, falou sobre a formação dos atuais arquitetos e urbanista na perspectiva da educação cidadã. Na sua avaliação, o modelo desenvolvido nas escolas hoje precisa banido, pois passa conhecimentos técnicos de uma forma muito rápida pensando que está formando arquitetos e urbanistas.

 

 

Como a maioria dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo são jovens, ela avalia ser fundamental promover a formação como uma educação para a cidadania, a cidade e formar pessoas e não somente um técnico. “A nossa profissão é muito abrangente, mas por outro lado essa nossa formação humanista é muito exigente. O quadro que a gente está vendo dessa formação hoje no Brasil e acredito que em outros lugares também, mas aqui principalmente, é lastimável. São poucas as escolas que têm conseguido resistir a uma destruição de conteúdos importantíssimos e isso acontece também nos outros graus de formação, mas no curso de Arquitetura temos acompanhado uma redução do tempo de reflexão, uma aceleração da passagem do conteúdo como se isso fosse suficiente, além do desligamento dos estudantes da realidade em que precisam estar presentes”, descreveu Maria Elisa.

 

 

 

 

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