
O segundo dia de programação do Maio da Arquitetura, que concentra os principais eventos do gênero em São Paulo, abriu com o I Seminário da Diversidade do CAU, promovido pela Comissão Temporária de Raça, Etnia e Diversidade. O evento foi marcado pelo lançamento da Carta pela Equidade e Diversidade no cotidiano e no Conselho da Arquitetura e Urbanismo. O documento apresenta onze ações afirmativas que procuram aprofundar a equidade e diversidade dentro do sistema CAU. Formulado coletivamente pela CTRED, comissões e grupos temáticos que tratam dos temas nos CAU/UF, a carta foi lançada em um ato marcado por discursos emocionados.
Em 2018, o CAU assumiu o compromisso com a agenda de promoção à equidade com a adesão à Plataforma de Empoderamento Feminino da ONU Mulheres e do Pacto Global. A partir de então, uma série de medidas foram adotadas e consolidadas sob a Política do CAU para a Equidade de Gênero. Saiba mais no hotsite Mulheres na Arquitetura e nas Cidades. Pela primeira vez, o levantamento racial da foi incluído no Censo dos Arquitetos e Arquitetas e Urbanistas do Brasil.

Com a Carta pela Equidade e Diversidade, o CAU pretende aprofundar o combate ao racismo, à misoginia, homofobia, lesbofobia e transfobia dentro do CAU, seguindo a premissa de que é preciso se reconhecer dentro destas estruturas para oferecer respostas emancipatórias e superá-las. “A carta é um ponto importante para dar visibilidade a uma série de pautas que foram invisibilizadas dentro das instituições por muito tempo e vistas como não importantes para o exercício profissional. Com ela, tornamos possível fazer um debate franco e aberto que nos permita encarar os problemas de frente”, afirma a coordenadora da CTRED, Claudia Salles.
Segundo a conselheira, representante do Ceará, a partir da estrutura institucional, o CAU é capaz de estender o debate e fazer compreender como essas questões interferem na condição de trabalho “Como estes temas ocorrem de forma velada, não fica claro como o racismo, a homofobia e a misoginia trazem prejuízos ao exercício profissional de mulheres, de homens e mulheres pretas, de homens e mulheres trans. Este público negligenciado foi durante muito tempo, e a carta tem o propósito de mostrar que ele existe e precisa do mesmo tratamento que os outros profissionais”.

“Somos diferentes, mas precisamos garantir que essas diferenças não incidam nas nossas condições de acesso e permanência na profissão. Na nossa formação, aprendemos a inventar, abstrair, vislumbrar possibilidades. Por que ainda temos tanta dificuldade de imaginar como deve ser estar no lugar de outra pessoa? Precisamos da diversidade na profissão para melhor atender a sociedade, entender as suas evoluções, as novas demandas e promover arquiteturas e cidades mais inclusivas”, diz a carta. Leia o documento na íntegra
A presidente Nadia Somekh recebeu oficialmente o documento formulado pelas comissões. Ela saudou as presidências e representações dos CAU/UF presentes, demonstrando abertura para o debate nos estados, e agradeceu o trabalho das comissões que construíram o texto da Carta. A presidente destacou o avanço do tema nas gerações mais recentes. Resgatando o legado de Rosa Klias, lembrou que a própria paisagista afirmou ter escolhido este campo de trabalho por considerar menos competitivo com os homens. “Ainda somos sub representadas na política, mas nós fomos achando o caminho. Estamos em conflito, mas com doçura, buscando o que é positivo para todos nós”, afirmou.

A conselheira pelo estado da Paraíba e uma das autoras do texto da carta, Camila Leal, destacou a necessidade de reconhecer os marcadores sociais de raça, gênero e diversidade no universo da arquitetura e urbanismo. “Não é possível discutir prática profissional e ética sem discutir as desigualdades sociais”, afirmou.
Também participaram da mesa de abertura as representantes do CAU/SP, Leda Van Bodegraven e Fernanda Menegari Querido; e a presidente da FNA e coordenadora do CEAU, Eleonora Mascia.
Assista ao vídeo da transmissão do I Seminário da Diversidade do CAU