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Severiano Porto: o arquiteto por ele mesmo

Generoso, inventivo e inovador, Severiano Porto influenciou gerações de arquitetos com suas ideias e conceitos sobre arquitetura regional. Desde o início da carreira, seu trabalho foi marcado por possuir uma personalidade própria, fruto de uma extensa vivência em debates acadêmicos e em canteiros de obras. Abaixo, reunimos algumas frases que ilustram melhor o pensamento de Severiano Porto sobre diversos temas, coletadas em entrevistas e depoimentos.

 

Aldeias SOS, em Manaus

 

SOBRE ARQUITETURA

“A natureza cria, o arquiteto integra”.

Frase estampada em adesivo colado no seu carro (ArchDaily, 2013)

 

“Considero o arquiteto um ‘superprofissional’, porque precisa entender de tudo que compõe o ambiente construído, além do planejamento urbano em toda sua abrangência. Este conhecimento extrapola a pesquisa, a elaboração do programa, dos projetos, a coordenação dos diversos cálculos complementares etc. O arquiteto deve ter um profundo conhecimento da obra propriamente dita, pois esta sim é a razão e a atividade-fim da nossa profissão. O projeto é somente a etapa que antecede e fundamenta o seu fazer”.

(Revista AU, 2014)

 

“Sempre desejei viver todas as fases da obra, do projeto à conclusão. Mesmo assim, jamais poderia sonhar com as solicitações que surgiram, com toda aquela diversidade de finalidades, programas, processos construtivos, regiões e climas”.

(Revista AU, 2014)

 

“Os alunos [na minha época de faculdade] em sua maioria eram estagiários em escritórios de arquitetura ou em construtoras. Eu optei por construtoras porque arquitetura e urbanismo eu aprenderia na faculdade, enquanto as construtoras me proporcionavam sentir e viver o canteiro, tendo como professores os instaladores, pedreiros, carpinteiros, armadores e serventes. Na comunhão das duas escolas passei a me sentir mais seguro para propor soluções e aprender como fazê-las”.

(Revista AU, 2011)

 

Casa Schuster, em Manaus

 

SOBRE O USO DE MADEIRA NA ARQUITETURA

“Na época, acharam que madeira era obra de pobre, o governo queria uma imagem de permanência”.

Sobre o uso de madeira pré-fabricada em uma escola de Manaus (Vitrivius, 2003)

 

“Acreditamos que à medida que formos assumindo a responsabilidade de nos situarmos no momento presente, com a imensa quantidade de informações de tudo o que foi feito até os dias de hoje, de todas as técnicas locais e regionais e mais ainda os novos materiais, os equipamentos de apoio que dispomos, as novas técnicas construtivas, estaremos coerentes com o momento atual, nossa época, livres para criar, de uma forma mais bela, racional, mais adequada às regiões, à ecologia, às identidades regionais e ao seu homem.”

(Portal Arquitetônico, 2012)

 

Sede da Suframa, em Manaus

 

SOBRE FAZER UMA ARQUITETURA REGIONAL

“Foi observando o pessoal nativo – os seringueiros, para mim, gigantes que cruzam a floresta amazônica a pé e passam meses embrenhados na mata, levando uma bagagem mínima, enfrentando toda sorte de problemas até grande onças que a gente pode encontrar mesmo perto de Manaus – que aprendi sobre o fazer regional”.

(Vitruvius, 2003)

 

“Vivemos lendo livros estrangeiros, e queremos entrar nos padrões europeus. Não nos libertamos disso nem [neste Seminário Latino-Americano] onde se precisou convidar europeus e japoneses para não ser uma simples bienal”.

Sobre a Bienal de Arquitetura de Buenos Aires de 1985 (Vitruvius, 2003)

 

“Vamos tentar sacudir um pouco tudo que aprendemos e nos condicionamos a utilizar, para ver se conseguimos atirar longe conceitos de construção, soluções e espaços inadequados, substituindo-os com criatividade, segurança e coragem por outros adequados a nossa região para benefício das pessoas que aqui vivem e moram nas casas que aqui fazem.”

(Studio Blog, 2013)

 

“Não existe uma arquitetura de mão única, mas uma arquitetura própria do lugar. Aliás, a cultura indígena faz isso com sabedoria, e tem muito a nos ensinar, em termos de habitação e até de sobrevivência”.

(AU, 1999)

 

Estádio Vivaldo de Lima

 

SOBRE OS COLEGAS

“Um profissional que se dedica a estudar a natureza e a forma de viver nela. Oswaldo Bratke é um exemplo: antes de construir a Vila de Serra do Navio, no Amapá, ele passou lá três meses só sentindo as condições da região, para depois construir”.

(AU, 1999)

 

“Lelé vai além da arquitetura. As enfermarias do Hospital Sarah Kubitschek, em Salvador, são verdadeiros estacionamentos de macas, que também são projetadas e fabricadas por ele. Eu vi um doente numa maca fazendo a sesta debaixo de uma mangueira! Vale a pena conhecer, sentir o astral do lugar. Até brinquei com o pessoal, dizendo que estava lá porque sou tiete de Lelé”.

(AU, 1999)

 

Se existe uma arquitetura que dá um show de técnica – emprega de forma correta os diversos materiais e tudo isso transpirando as suas tradições e culturas a vida toda – é a japonesa. Veja como eram os pagodes, veja o projeto de Kenzo Tange, para as Olimpíadas de Tóquio, que perfeição! Ou o projeto do Pavilhão do Japão, em Sevilha, de Tadao Ando, todo em madeira. Além do conhecimento, eles têm a sensibilidade em relação à natureza, essa integração com o meio ambiente, o silêncio, a economia de meios, todo um trabalho de pesquisa tecnológica em função de desafios, como os terremotos”. 

(AU, 1999)

 

Restaurante Chapéu de Palha

 

O QUE DISSERAM SOBRE ELE

“O júri se sente gratificado diante deste trabalho. É raro o prazer de admirar uma arquitetura tão bem realizada, com tal integração material / linguagem / criatividade / resultado, onde se vê o domínio do arquiteto sobre o material, e uma linguagem coerente com a Amazônia desvinculada de estereótipos”.

Júri da Premiação Anual do IAB de 1982, na justificativa do prêmio pela Pousada da Ilha de Silves, no Amazonas

 

“Sem abrir mão dos avançados recursos materiais e técnicos contemporâneos, os arquitetos não vacilam em aproveitar as tradições culturais indígenas no trato da madeira e das estruturas espaciais. O Campus da Universidade de Manaus e no Centro de Proteção Ambiental de Balbina, constroem ‘espaços que respiram’ com uma linguagem plena de modernidade, sem concessões ao exótico e ao pitoresco”. (Júri da Premiação Anual do IAB de 1987, na justificativa do prêmio pelo campus da Universidade Federal do Amazonas)

 

“A formula de Porto para uma arquitetura ‘do tempo e do lugar’ como diria Browne, parte, pois, da tecnologia. Mas uma tecnologia imaginativa”.

Marina Waiseman, a pretexto de uma exposição dos trabalhos de Severiano Porto na Bienal de Arquitetura em Buenos Aires (1985)

 

 

Leia aqui a íntegra das entrevistas:

 

Revista AU, 1999

ArchDaily, 2013

Revista AU. 2014

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