Nesta semana, as obras do arquiteto e urbanista Severiano Mário Porto foram reconhecidas pelo Global Award of Sustainable Architecture, uma das principais premiações da área de arquitetura da Europa. O prêmio existe desde 2006 e seleciona, anualmente, cinco profissionais de arquitetura em todo o mundo. Em 2021, o tema da premiação foi “Arquitetura e Natureza: uma nova sinergia?”.
Severiano Mario Porto, nascido em Uberlândia em 19/02/1930, tinha 90 anos de idade e faleceu em dezembro de 2020, vítima da Covi-19. Mundialmente conhecido como o “arquiteto da floresta, ou “arquiteto da Amazônia, “ele foi responsável por conceber um modelo único de arquitetura amazônica e sustentável, que une técnicas desenvolvidas por ribeirinhos e caboclos com as mais modernas e inovadoras criações na arquitetura”, dizia a nota de pesar do CAU/AM.
A indicação ao prêmio foi feita em 2019 pelo também professor da Faculdade de Tecnologia da Universidade Federal do Amazonas, Marcos Cereto, pesquisador da obra do arquiteto mineiro. Em razão da pandemia, o resultado, que deveria ter sido publicado em 2020, só pôde ser conhecido este ano.
Severiano desenvolveu muitos projetos no Amazonas entre eles: o Estádio Vivaldo Lima, 1965, e o restaurante Chapéu de Palha, de 1967, ambos já demolidos. Em 2016, por iniciativa da Assembléia Legislativa do Amazonas, com envolvimento do CAU/AM, diversas de suas obras foram tombadas, por seu interesse arquitetônico, histórico e cultura. Entre elas, está o Fórum Henoch Reis, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM), a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a Sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), o Banco da Amazonia e o Centro de Proteção Ambiental de Balbina, hoje em ruínas.
Depois de premiado na Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, em 1985, ele alcançou renome internacional, o que é confirmado em 1987, quando é homenageado como o homem do ano pela revista francesa “L’Architecture d’Aujourd’hui”.
Presidente-fundador do IAB no Estado do Amazonas, em 1976, e um dos fundadores da AsBEA, Severiano também exerceu a função de professor de arquitetura e urbanismo na Faculdade de Tecnologia da Universidade do Amazonas, de 1972 a 1998. Depois de 36 anos vivendo em Manaus, o arquiteto retorna ao Rio de Janeiro, e transfere o escritório para Niterói, onde passou a morar. Em 2003 recebe o título professor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro – URFJ. O arq
Severiano Mário Porto pertencia ao grupo de “arquitetos peregrinos, nômades e migrantes” (nas palavras do arquiteto e crítico Hugo Segawa) que a partir dos anos 1950 deixam os grandes centros do país, sobretudo o Rio de Janeiro, em busca de novas oportunidades de trabalho.
“Severiano Porto se destaca no cenário arquitetônico nacional pela obra construída no Amazonas desde os anos 1960, sendo cultuado desde 1980 como um arquiteto regionalista que sabe aproveitar de forma criativa os materiais e os costumes do lugar. Mais conhecida pela valorização e o uso da madeira amazônica bruta, a sua obra, entretanto, não se restringe a esse material. A atenção dada às condições específicas da região não impede que ele utilize outros elementos e técnicas construtivos, como o alumínio, o cimento amianto, o concreto e o aço. Isso porque, em seus projetos, se orienta mais pelo clima, programa, materiais, técnicas e recursos financeiros disponíveis do que por anseios românticos ou nostálgicos” (Enciclopédia Itaú Cultural).
“A NATUREZA CRIA, O ARQUITETO INTEGRA “
Na época do falecimento de Severiano Mário Porto, o portal ArchDaily lembrou um episódio que mostra um pouco do espírito de Severiano: “é a história de seu carro que trazia em destaque um adesivo do IAB com a frase “a natureza cria, o arquiteto transforma”. Contestando a afirmação, o arquiteto rasurou severamente a palavra “transforma”, sobrepondo a ela o termo “INTEGRA”. Para Severiano Mário Porto o arquiteto integra”.
“Além de admirador de sua obra, tive a oportunidade de desfrutar inúmeras vezes da companhia e dos conhecimentos de Severiano Mário Porto em suas frequentes vindas a Fortaleza para visitar o professor Neudson Braga, de quem era muito amigo, ou participar de eventos culturais no IAB e em universidades”, conta o presidente do CAU/BR, Luciano Guimarães. “Era uma pessoa afável, muito atencioso com os mais jovens. Seu discurso sobre seus projetos era empolgante. Sua obra é a expressão máxima da união da arquitetura com a cultura local, com uso de materiais regionais, mas com total respeito à natureza. Foi um pioneiro na arquitetura sustentável, um desbravador na organização da categoria na região norte e dedicado educador. Severiano ficará na galeria de nossos maiores talentos”.
“Severiano Mario Porto insistiu nas melhores práticas humanísticas no contexto do seu tempo”, afirmou a presidente do IAB/DN, Maria Elisa Baptista.. “Ele combinou cultura, razão, técnica e ecologia nas suas obras, o que faz do seu legado hoje uma referência universal”.
VEJA TAMBÉM:
= Arcoweb: Especial Severiano Porto
= Vitruvius: coletânea dos artigos sobre Severiano Mário Porto publicados pelo portal
= Tecnologia BIM: construção digital da Vila Baldina: preservando o projeto de Severiano Mário Porto