
A obra do arquiteto Severiano Porto se apresenta, antes de tudo, como um olhar especial sobre a questão do habitat humano na cena da Vida Brasileira do século XX.
Ele representa, de forma muito peculiar e apropriada, o sonho de uma geração de intelectuais – entre eles arquitetos – que ousou pensar um Brasil e uma Arquitetura a serviço deste Brasil, refletindo sobre suas opções tecnológicas, suas expressões e linguagens, sua História e possibilidades de desenvolvimento.
Essa obra trata de uma certa brasilidade, revelações de um jeito de ser e viver, de uma forma de habitar e construir esses lugares, para quem as conhece a sensação é que, de tão apropriadas, parecem que sempre lá estiveram.
Essa brasilidade tem suas bases na experiência do cidadão que nasce nas Minas Gerais, é carioca de formação e faz de sua opção profissional pelo Amazonas uma importante contribuição para a Arquitetura de seu tempo. Esse Brasil diverso e rico já se apresentava em sua formação e história pessoais.
Sua Arquitetura funde e reinventa com maestria as experiências da melhor cepa dos modernistas cariocas do pós-guerra. Mas, ela ganha a dimensão de uma contribuição à modernidade brasileira e universal quando o arquiteto pisa em solo amazônico e, bebendo nas fontes da sabedoria popular, mergulhado na riqueza desta natureza onírica, refina seu universo sulista e moderno a favor de lugares apropriados ao mundo novo onde passa a morar e atuar.
Esta safra de grandes exemplos de uma Arquitetura madura e bela, genial e culta, simples e complexa, segue como manifestos à inteligência e poética humanas, prenhes de força e invenção, fruto da vida e obra de um homem que soube honrar suas responsabilidades e oportunidades com uma obra verdadeiramente fundante.
O privilégio de conviver com esse universo foi o melhor prêmio que tive ao chegar em Manaus em 1988, jovem e cheio de disposição de aprender com essa obra instigante e esmerada.
Oxalá as novas gerações saibam entender e usufruir deste legado!
Roberto Moita é arquiteto e urbanista, presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Manaus (Implurb).