Entusiasta da moda, Gisele Borges de Carvalho costuma fazer um paralelo da arquitetura com as dobras, fendas, reentrâncias, transparências e tramas. “Se a roupa veste nosso corpo, a arquitetura abraça nossa alma e abriga com personalidade o jeito particular de cada um de nós”, defende.
Em entrevista exclusiva ao CAU/BR, Gisele Borges de Carvalho, sócia-fundadora do Escritório Gisele Borges Arquitetura desde 1994, apontou importantes dicas para as jovens arquitetas em início de carreira.
A arquiteta e urbanista se especializou em Gerenciamento de Projetos pelo Instituto de Educação Tecnológica e Gestão de Pessoas (IETEC) e em Gestão de Pessoas pela Fundação Dom Cabral (FDC), com o firme propósito de trazer racionalidade e construtibilidade para uma arquitetura criativa e emocionante.
Atualmente é também presidente da Associação Brasileira das Empresas de Arquitetura (AsBEA-MG), gestão 2022-2050; conselheira do Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável e Estratégico de Belo Horizonte (Codese-MG) e coordenadora do Grupo Técnico Requalificação Urbana Centro-BH.
Veja, a seguir, trechos da entrevista, ação da campanha #MulherEspecialCAU:
Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR): Como você vê o papel da mulher na arquitetura hoje em dia?
Gisele Borges de Carvalho: Arquitetura surgiu e floresceu na renascença como uma profissão masculina. Ainda hoje, na politécnica de Milão, um profissional se forma com o título de arquiteto, independente do gênero. Me sentiria honrada de ter um título Arquiteto Gisele, o que significaria que conquistei uma posição que antes era só dos homens. É um mérito e tanto.
CAU/BR: Quais são os maiores desafios que você enfrentou como arquiteta mulher em sua carreira?
Gisele Borges de Carvalho: Não tenho desafios por ser mulher. Acredito que os desafios são da profissão e não do gênero. Quando vejo colegas homens fazendo arquitetura de baixa qualidade, tenho a mesma tristeza em ver colegas mulheres produzindo cidades ruins.
CAU/BR: Como você acha que a arquitetura pode contribuir para a igualdade de gênero na sociedade?
Gisele Borges de Carvalho: Será mesmo que devemos perseguir igualdade de gênero?
Não me vejo nessa busca. Persigo o trabalho de excelência, o de ter nossos projetos reconhecido pelos meus pares como um bom trabalho é um grande mérito. Se isso inspira outros profissionais fico muito feliz e honrada.
CAU/BR: Qual é a sua abordagem para projetos de arquitetura sustentável?
Gisele Borges de Carvalho: Tenho muito cuidado ao falar de sustentabilidade, pois esse termo foi usado de forma tão exacerbada, que muitas vezes não significa que o resultado é positivo. Cumprir requisitos não significa qualidade, então tendo a analisar uma arquitetura de forma global. Se ter um projeto aprovado na prefeitura, ou uma edificação com selo de qualidade significasse que estamos produzindo arquitetura melhor, nossas cidades não estariam tão desumanizadas, chatas e feias, mas estão. Nossas cidades perderam qualidade ao longo dos anos, embora a regulamentação tenha aumentado. Dito isso, me preocupo em fazer uma arquitetura bem ventilada e iluminada naturalmente, honrar o terreno, conectar a edificação com a cidade. Me preocupo em entregar uma paisagem melhor do que aquela que recebi. Se consigo isso, considero 80% do trabalho, porque reaproveitar água de chuva, gerar energia, favorecer coleta de lixo, não é complexo e nem precisa de muita criatividade, é uma questão de escolha do incorporador.
CAU/BR: Quais conselhos você daria para jovens arquitetas que estão começando suas carreiras?
Gisele Borges de Carvalho: Trabalhe muito! É fazendo, errando, avaliando e sendo avaliado que crescemos. Não ignore as críticas, seja maduro ao recebê-las, quem critica normalmente quer seu bem e quer ver você crescer. Não escute só os amigos, eles não querem ver você sofrer ou correr riscos, mas a vida é correr riscos. Seja humilde. Isso não significa ser frágil, lembre-se de que seu cliente está em busca de quem resolve problemas e não de quem fica lamuriando. Continue estudando, lendo, participe de eventos e escute versões diferentes sobre a mesma obra. Isso lhe ajudará a abrir os olhos para ver o que de imediato você não percebe e a construir suas próprias conclusões.