Em comemoração ao Dia da Mulher Negra e ao Dia Nacional de Teresa de Benguela, instituídos por meio da Lei 12.987/2014, que completa 20 anos nesta quinta-feira (25/07), e ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado hoje, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) ouviu conselheiras negras de todas as regiões do país sobre os desafios, conquistas e lutas por equidade.
Este dia é uma oportunidade significativa para reconhecer e valorizar as profissionais negras que estão transformando a arquitetura e o urbanismo no país, combater o racismo e o machismo, além de reforçar a importância de políticas públicas que promovam a igualdade racial e de gênero.
Ser arquiteta e urbanista negra no Brasil é enfrentar e superar barreiras que vão além das dificuldades habituais da profissão. As arquitetas negras não apenas criam e inovam, mas também resistem e transformam realidades. “Tenho reconstruído minhas percepções da realidade, buscado mais as minhas raízes, me inspirando em pertencimentos e me sentindo estimulada a ocupar cada vez mais espaços”, destaca Camila Dias e Santos, coordenadora da Comissão de Administração e Finanças do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAF – CUB/GO).
Melyssa Maila, coordenadora da Comissão de Políticas Afirmativas do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CPAF – CAU/SP), ressalta a importância da resiliência. “É ser resiliente, resistente; é aprender e ensinar; é lutar; é aquilombar; é resgatar nossa história, identidade com dignidade e respeito”.
Para Hainra Asabi, coordenadora Comissão de Organização e Administração (COA) do CAU/SP, a jornada é contínua. “É compreender que nossos passos vêm de longe. Se hoje podemos caminhar como arquitetas é porque nossas mais velhas tiveram que correr. Somos contínuas e lineares no processo diário de busca e encontro de nossa ancestralidade, de fazer e nos ver nos espaços”, frisou.
“Há muito o que aprender (e refletir) com essas mulheres negras que, no abismo do seu anonimato, têm dado provas eloquentes de sabedoria”, Lélia Gonzalez.
Alyne Fernanda Reis, conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ), reflete sobre o anonimato e a sabedoria das mulheres negras. “Me apoio às palavras de Lélia Gonzalez para refletir sobre uma profissão que nos colocou à margem durante muito tempo”, frisou. Segundo ela, o encontro com arquitetas e urbanistas negras tem sido uma transformação constante nessa estrutura que ainda nos nega tantos acessos como comprovado com o censo organizado pelo CAU/BR, em relação ao mercado de trabalho, salário, entre outros marcadores. “Conhecer a potencialidade das mulheres negras dentro dos escritórios de arquitetura, no planejamento urbano, no funcionalismo público, entre outros espaços, é um grande passo para transformação da profissão e da sociedade”, completa Alyne Reis.
Transformação e emancipação
A presença de arquitetas negras em diferentes esferas da profissão é um grande passo para a transformação da sociedade, que ainda apresenta inúmeros desafios para as mulheres negras, que enfrentam barreiras estruturais e preconceitos. “É compreender que a nossa profissão pode ser uma ferramenta de emancipação”, salienta Thaise Machado, conselheira e coordenadora da Comissão Temporária de Políticas Afirmativas do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CTPAF – CAU/RS).
“É um ofício que me faz inspirar fundo, expirar e quase surtar mais vezes do que eu gostaria, e nada disso é metáfora. Porém, perceber que ainda não estamos prontos enquanto sociedade para as próximas etapas me motiva a seguir em frente e ajudar a criar mudanças”, menciona Kaísa Isabel da Silva Santos, 1ª vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (se.
Sobre os desafios em São Paulo, Andreia de Almeida Ortolani, vice-presidente do CAU-SP, menciona que “ser arquiteta negra em São Paulo é desafiador, mas ocupar espaços institucionais redefine realidades. Que, no futuro, mais profissionais negras estejam nas Entidades de Arquitetura e Urbanismo em todo o Brasil”.
Taynara Gomes, presidente do CAU/PA, destaca a inovação e a diversidade: “É ocupar espaços e abrir caminhos. É inovar e diversificar as possibilidades da arquitetura e urbanismo para além daquilo que historicamente nos foi apresentado.”
Compromisso com a inclusão
“Ser arquiteta e urbanista negra hoje significa enfrentar desafios estruturais, mas também abrir caminho para novas gerações com representatividade e inovação”, diz Fernanda Bandeira, conselheira de Tocantins.
“A única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade é o que Viola Davis diz e o que o cotidiano de arquitetas negras denuncia. A coletividade e a organização da classe são essenciais no processo de transformação dessa realidade marcada por desiguais acessos e possibilidades profissionais”, ressalta Ana Clara Fonseca, conselheira do CAU/PA.
Já Ana Cristina Santos, conselheira de Sergipe, conclui que “ser uma mulher negra arquiteta é mostrar todos os dias à sociedade que podemos ser e estar onde quisermos, traçando as lutas diárias para alcançar voos muito mais altos”.
Com 46 anos de formada, a primeira presidente negra do CAU/SE, Ana Maria de Souza Martins Farias, enfatiza a importância de valorizar o trabalho das profissionais negras. “Reporto-me diretamente as arquitetas e urbanistas mais jovens, que concorrem em condições desiguais no mercado profissional na sociedade brasileira, considerando o déficit histórico de raça e assim existe a necessidade de reparação para promover um ciclo de apoio, com o objetivo de fortalecer as mulheres pretas e pardas economicamente, politicamente e socialmente, para concorrerem com equidade no mercado profissional. Entendendo a questão do déficit histórico que as acompanha”.
Políticas Afirmativas do CAU/BR
No próximo dia 31/07, em Brasília, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil vai lançar os seus Cadernos de Políticas Afirmativas. A publicação representa um marco na promoção de políticas inclusivas e no reconhecimento da importância das arquitetas negras na construção de um futuro mais equitativo e diversificado.
Nele, o CAU/BR reafirma seu compromisso com a inclusão e a visibilidade das profissionais, destacando suas contribuições essenciais para a arquitetura e urbanismo. “O lançamento desse caderno é um passo importante para reconhecer e valorizar a contribuição das arquitetas negras, promovendo a inclusão e a diversidade no campo da arquitetura e urbanismo”, destaca a coordenadora da Comissão de Políticas Afirmativas (CPA) do CAU/BR, Josemée Lima.