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UIA2021RIO: Alfredo Brillembourg defende arquitetura social para as periferias

A segunda discussão da Semana Aberta de debates virtuais, parte do 27º Congresso Mundial de Arquitetos, aconteceu no dia 23 de março, com o tema “O Que é Mesmo Periferia? ” dentro do eixo temático Fragilidades e Igualdades. No encontro o arquiteto, editor e crítico de Arquitetura Fernando Serapião entrevistou o também arquiteto Alfredo Brillembourg, referência da produção arquitetônica quando se tem em mente as transformações urbanas do final do século XX e início do século XXI e a Arquitetura Social.

 

Com uma trajetória diretamente relacionada com a Arquitetura Social, Alfredo Brillembourg, em parceria com Hubert Klumpner, fundou em Caracas, na Venezuela, o Urban Think Tank, escritório interdisciplinar que trata de pesquisa de alto nível em relação a ambientes contemporâneos complexos. O foco do escritório é justamente a busca de soluções inovadoras para tender as condições urbanas informais e mudanças populacionais dramáticas em cidades de todo o mundo.

 

 

Alfredo se autodefine como um arquiteto que desenha uma espécie de equipamento urbano que pode ser feito em partes – as peças da Arquitetura podem ser colocadas de formas distintas. Com formação em Arquitetura na Universidade de Columbia nos Estados Unidos, ele é referência em países como a Venezuela e Suíça, mas sua atuação tem grande influência brasileira em programas como o Favela-Bairro, dos anos 90, de autoria do arquiteto Sérgio Magalhães.

 

A partir do seu projeto do Ginásio Vertical em Caracas, com 4000 metros quadrados de área desportiva, em quatro níveis, numa área de 800 metros quadrados com uma simples estrutura de metal, Alfredo foi convidado para que seus alunos demonstrassem seus trabalhos e ideias para diferentes favelas de São Paulo, que resultou no livro “Escritório de Ideias Urbanização de Favelas”. Um dos trechos dessa publicação revela como levar para cidades muito densas edificações verticais e fazer diferentes tipos de conexões.

 

Com base no Ginásio Vertical, o escritório de Alfredo, após cinco de pesquisa, desenvolveu um projeto para a região do Grotão, uma área de risco na comunidade paulista de Paraisópolis. Para o espaço foi previsto um grande parque para a prática de esportes, escolas de música e de dança, uma solução de habitação social e estação rodoviária, tudo funcionando em conjunto. Embora esteja pronto para ser executado, o projeto nunca foi concretizado, para lamento de Alfredo Brillembourg, e o local foi novamente ocupado por moradores.

 

 

 

A Arquitetura Social é a solução para a resolução de problemas nas periferias das cidades na avaliação do arquiteto Alfredo, do contrário “teremos a revolução”. Segundo Alfredo, a Venezuela está em revolução há 20 anos, e é isso se deve ao fato de não ter sido feito um trabalho necessário nas favelas. “60% do Vale de Caracas é um assentamento informal”, acrescentou.

 

O caminho de Alfredo na Arquitetura Social foi trilhado desde a sua infância, quando, mesmo pertencendo a uma classe privilegiada na Venezuela, teve a oportunidade de conhecer a realidade de diversos bairros pobres. Isso o influenciou a não estudar a Arquitetura apenas pela forma e o levou a pesquisar autores diversos, como Aldo Rossi, que em seu livro “A Arquitetura da Cidade” afirmava que era preciso resistir e que o único lugar onde se poderia ser arquiteto de verdade era na resistência às modas.

 

Após anos de experiência na Venezuela, com os ensinamentos da pandemia da Covid-19, com o fato de a cada cinco europeus um ser pobre (dado das Nações Unidas) e ainda devido ao crescimento da pobreza nas populações da América do Sul, África, Índia, Sul da Ásia, Alfredo Brillembourg reforça os ensinamentos de Frampton de que o trabalho da Arquitetura, com “A” maiúsculo, só é possível com programa social. Ou seja, “a Arquitetura é feita para inventar novas utopias sociais, novas formas de viver e novas formas de criar a sociedade”.

 

Para Alfredo, o jovem arquiteto tem que enfrentar o século 21, a pandemia entendendo que é relevante responder à sua geração, que neste momento tem como grande problema a desigualdade social. “Se você quer ser um arquiteto relevante tem que criar algo que seja um impacto social… Pode ser um teto de ferro; a Arquitetura que os jovens fazem hoje quase não tem Arquitetura. Creio que não é a forma que importa. O que precisa estar em evidência na Arquitetura é um processo de inclusão e um processo social”, ressaltou.

 

Alfredo também destacou a importância da Arquitetura moderna, mas destacou que esta tornou-se apenas forma e perdeu o conteúdo social, perdendo assim o sentido do moderno. Para ele, na globalização o que se criou foi simplesmente uma comercialização de formas e fachadas, mas o conteúdo foi perdido.

 

O distanciamento da Arquitetura brasileira das favelas foi enfatizado por Alfredo ao destacar o fato de grandes arquitetos como Niemayer e Mendes da Rocha nunca terem feito projetos para bairros. “A escola de São Paulo, embora seja muito boa, e Mendes da Rocha, que entrevistei várias vezes e tem uma consciência social para infraestrutura, não quiseram entrar no bairro. Foi Jorge Mário Jáuregui que me deu a ideia de que a Arquitetura pode sim ser feita nas favelas”, afirmou.

 

Segundo Alfredo a Arquitetura deve atender os 80% da população carente, e no processo de penetração nas favelas, avalia que é necessário ter o Estado, a comunidade, o setor privado, arquitetos e engenheiros juntos. Para ele, o arquiteto precisa ter a tarefa fundamental de ser o moderador das conversações nesse contexto. “Ele precisa ter uma conexão direta com as Organizações Não Governamentais que estão nas favelas e com o território e ouvir os moradores das favelas. Precisa interpretar e tentar moderar diferentes interesses dos envolvidos”, orientou.

 

A atual situação das favelas no Brasil foi lamentada por Alfredo, que avalia serem caracterizadas por um processo inacabado, que começou com a Favela-Bairro. “Estamos um pouco à deriva em São Paulo, mas também no Rio de Janeiro”, acrescentou o arquiteto, que no passado enxergou o país como uma inspiração no projeto arquitetônico de favelas.

 

O momento atual da pandemia é visto por Alfredo como uma grande oportunidade. “A sociedade mudou. Não somos mais os mesmos. Arquitetos que tinham grandes escritórios não podem mais atuar como antes; a forma de ensinar mudou; temos que reinventar a universidade em uma nova forma de ensinar. A profissão do arquiteto também precisa ser reinventada, bem como a relação entre o Estado, arquitetos e moradores de favelas. Tenho certeza de que isso é possível, pois cada vez mais percebemos que ou fazemos a Arquitetura Social ou a revolução virá”, sentenciou.

 

 

 

Para assistir, acesse: https://aberto.uia2021rio.archi/debates/abertura/

 

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