ARQUITETURA SOCIAL

UIA2021RIO: mesa-redonda apresenta conclusões da primeira Semana Aberta

A descontinuidade e a falência de projetos arquitetônicos e urbanísticos em territórios fragilizados a partir de interesses políticos são fatores que impulsionam as desigualdades. Estas são algumas conclusões da Semana Aberta UIA2021RIO, apresentadas no dia 25 de março, numa mesa-redonda que reuniu os arquitetos Alfredo Brillembourg, Fabienne Hoelzel e Adriana Levisky, com mediação de Nivaldo Andrade, arquiteto e membro do comitê científico do 27º Congresso Mundial de Arquitetos. Os especialistas aprofundaram os principais temas discutidos nos três dias de debates, que teve início em 22 de março.

 

 

Uma das alternativas para superar a paralisação de projetos decorrentes, principalmente, das sucessivas mudanças de governos ou da falta de políticas públicas sólidas, foi apresentada pela arquiteta Fabienne Hoelzel. Na sua avaliação, os próprios arquitetos e urbanistas devem tentar proporcionar a inclusão dos segmentos marginalizados da população e não esperar a atuação dos políticos. Mesmo que ocorra uma governança formada por diversos setores, ou em maior parte pela população, como acontece na cidade africana de Lagos, onde ela atua, o governo deve ter um papel nessa construção, questão a ser defendida pelos profissionais envolvidos com o desenvolvimento urbano.

 

Resultado das políticas públicas que falharam, as favelas necessitam caminhar em direção a uma “coprodução”, envolvendo a população, setor privado, profissionais e governo, segundo defende Fabienne. Para ela, que atua na África Subsaariana, região que enfrenta uma imensa precariedade em relação a falta de serviços básicos nas cidades, os arquitetos precisam desenvolver mais trabalhos para essas regiões como forma de enfrentar problemas estruturais.

 

 

E é nessas cidades informais que o arquiteto Alfredo Brillembroug avalia que a participação dos arquitetos pode se dar como se fosse uma espécie de “acupuntura” inserindo pedaços de Arquitetura como escola, hospital, espaço público, habitações ou uma peça de infraestrutura. “A ideia de urbanização deve ser incrementada e cuidada pelos governos”, defende Alfredo Brillembourg. Para ele, o Estado tem que impulsionar o processo de urbanização, conexão e outros, mas os arquitetos precisam se perguntar qual é o objetivo do dinheiro disponível, do projeto, do lugar, qual o impacto social e como é possível ter a melhor Arquitetura para a menor necessidade.

 

A falta de continuidade em projetos desenvolvidos em lugares como os morros do Alemão e da Providência, no Rio de Janeiro, inviabilizaram a instalação de infraestrutura necessária para a eficácia do conjunto da obra, avalia Alfredo. Para ele, mesmo que o arquiteto crie ou desenhe o melhor projeto, se o poder público não respeitar e considerar de maneira profunda o trabalho de moderador do especialista urbano, que é o perito, a cidade nunca conseguirá progredir.

 

Para solucionar os problemas das favelas uma das sugestões de Alfredo é que os arquitetos ofereçam ideais inovadoras; que inventem um programa de habitação de custo zero e que se possa devolver o direto à cidade numa escala melhor com relação à moradia, pois o problema “não é exatamente da casa em si, mas tudo o que está ao seu entorno como falta de água, esgoto, luz e etc.”.

 

 

Importantes provocações também foram levantadas pela arquiteta e urbanista Adriana Levisky relacionadas, por exemplo, com a governança existente nesses territórios, suas fragilidades, desigualdades e o papel dos arquitetos em relação a esses processos. “Avalio que precisamos pensar como sensibilizar as pessoas que não foram tocadas pela questão da desigualdade. Quanto mais conseguirmos tocá-las, mais força teremos, inclusive para tornar esses processos de transformação (projetos em favelas) mais longevos”.

 

Para ela, é preciso erradicar a dualidade existente, por exemplo, entre o poder público e as comunidades no tratamento da reurbanização de favelas e da busca de inclusão social, na medida em que outros agentes e vozes possam enxergar valores econômico, cultural, ambiental e social nesses territórios. “Essa percepção terá uma força motriz muito mais capaz de dar permanência e longevidade que esses processos necessitam”, acredita Adriana. Ela destacou ainda a importância da unidade entre os agentes privados e o poder público para que esses processos possam se manter independente do término das gestões administrativas.

 

A arquiteta também questionou se não é necessário revisitar a estrutura dos modelos participativos existentes hoje no Brasil. “A legitimidade daquilo que se consolida enquanto decisão não tem força suficiente para garantir a manutenção da tomada de decisões. Então o que fazer com esse instrumento que não tem força social nem política para garantir a continuidade daquilo que foi pactuado pela própria sociedade?” Para mudar esse quadro os arquitetos certamente podem contribuir no desenho dos instrumentos jurídicos e urbanísticos para estruturar novas metodologias participativas, segundo ela.

 

A expertise e a capacidade técnica legal e necessariamente política dos arquitetos também podem redesenhar instrumentos e mecanismos aonde o que for pactuado não seja demolido por interesses pontuais, na avaliação de Adriana Levisky.

 

 

Ao final dos debates, o arquiteto Nivaldo Andrade reafirmou a importância dos arquitetos e urbanistas de todo o mundo participarem do 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO.  A primeira Semana Aberta de debates virtuais UIA2021RIO contou com mais de 30 mil participantes. Até o dia 31 de março, quem participou do evento tem 15% de desconto na inscrição do Congresso, que será realizado de 18 a 22 de julho, no Rio de Janeiro.

 

 

Ao final dos debates, o arquiteto Nivaldo Andrade reafirmou a importância dos arquitetos e urbanistas de todo o mundo participarem do 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO. Apenas nesta semana, quem participou da Semana Aberta de debates virtuais UIA2021RIO, tem 15% de desconto na inscrição do Congresso, que será realizado de 18 a 22 de julho, no Rio de Janeiro.

 

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