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UIA2021RIO: veja como foi o debate sobre a Arquitetura da Inclusão Social

A primeira Semana Digital de debates que antecedem o 27º Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2021RIO) teve início dia 22 de março, com o debate sobre “Fragilidades e Desigualdades” e discutiu a “Arquitetura da Inclusão Social”. Abordada pela arquiteta sueca Fabienne Hoelzel, diretamente da Alemanha, e pela socióloga e historiadora brasileira Maria Alice Rezende de Carvalho a temática traçou possibilidades que podem contribuir com a urbanização das cidades.

 

Com moderação de Mariana Barros – jornalista especializada em cidades – o debate apresentou, também, o resultado de pesquisas realizadas pelas palestrantes no Brasil e na África. Fabienne Hoelzel falou sobre sua experiência com a Afrotopia, conceito diretamente relacionado com utopia, mas que na Arquitetura e no Urbanismo se associa, por exemplo, ao projeto de megacidade de Foster + Partners, que é “a tecnologia de ponta tentando criar uma espécie de cidade ecológica e, também, uma utopia para que possamos viver um pouco melhor com o meio ambiente e, talvez, com a sociedade”, destacou.

 

Segundo Fabienne Hoelzel, para tratar das fragilidades e desigualdades enfrentadas pelas pessoas nas cidades é preciso abordar o papel que a tecnologia pode desempenhar nesse contexto ou até mesmo o “abismo” que ela pode gerar. Afrotopia, segundo a designer, não se limita a África e precisa ser entendida como uma filosofia e, portanto, não está restrita a um lugar e ao tempo. Para ela, planejadores urbanos como ela, devem considerar que estão planejando um futuro que em algum ponto ou lugar será realidade, pois o futuro é agora. O mais importante na sua avaliação é deixar de lado a ideia de se planejar um.

 

A arquiteta, que atuou na Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo, colaborando com o programa de urbanização de favelas, apresentou questões a partir da sua experiência acadêmica e no seu escritório de como se aprende, na prática, “na, com e da África”. Na cidade africana Lagos, ela participou do projeto do banheiro compostável seco móvel, ainda em desenvolvimento, que é uma espécie de abordagem experimental, pois é realizado com diferentes comunidades em diversos países, sem nenhuma tecnologia. O projeto é construído com os habitantes locais, que além de apresentarem suas opiniões atuam na construção das unidades. O projeto objetiva ser uma intervenção na comunidade, mas com uma espécie de retorno maior e deve ter a capacidade de dialogar com o governo local.

 

 

Fabienne apresentou ainda um projeto de pesquisa de campo inserida no ensino, desenvolvido com estudantes alemães e etíopes sobre mobilidade urbana. Segundo ela, enquanto na Etiópia 80% das pessoas usam os próprios pés para se locomover, na Alemanha há um excesso de estradas e carros. A base do estudo é saber como solucionar os problemas de mobilidade considerando o meio ambiente e o que está além dos carros “Não estou tentado glorificar a pobreza ou o subdesenvolvimento, embora eu realmente questione a palavra desenvolvimento. Dissemos que a urbanidade etíope leva à mobilidade do futuro porque é completamente sem carros, quer dizer, obviamente que existem carros”, enfatizou.

 

As cidades precisavam e ainda precisam ser tocadas pela disposição singela e generosa do bem-estar, defendeu a historiadora Maria Alice em sua apresentação. Ela destacou que as cidades brasileiras “incharam e foram deixadas a sua própria sorte ao longo de todo esse processo de transição demográfica – da ditadura militar até a promulgação da Constituição de 1988 – sem que os militares se ocupassem de um passivo socioambiental e habitacional que só se acumulava”.

 

Maria Alice avalia que o regime militar teve com as cidades, sobretudo com o Rio de Janeiro, uma postura de “laissez-faire”, ou seja, pouca atuação na tentativa de organizar o espaço urbano. E isso levou as famílias a serem as principais investidoras e elaboradoras dos seus projetos habitacionais – construídas com a energia e a poupanças privadas das famílias.

 

 

A historiadora participou da primeira avaliação do Projeto Favela-Bairro, pensado por arquitetos e urbanistas, com o propósito de estabelecer alguns bens de cidade para essas localidades, como aparelho de lazer, iluminação pública, escola, etc. Sua atuação a levou a traçar um paralelo sobre o perfil do desenvolvimento das favelas cariocas desde a década de 70.

 

Ao tratar da transição do século XX para o XXI e o impacto que isso teve sobre as cidades, Maria Alice enfatizou que esse processo nãofoi tão “suave, pois muitas camadas subterrâneas foram deslocadas quando se passava de um século para o outro”. Para melhor entender essas mudanças, a historiadora sugeriu a leitura do livro Expulsões: Brutalidade e complexidade na economia globalização, da socióloga holandesa Saskia Sassen, conhecida por suas análises sobre fenômenos da globalização e de migração urbana, e por ter cunhado o temo cidade global.

 

Para Maria Alice, o projeto ocidental moderno de cidade é a associação, atualmente esquecido, segundo ela. “Foi isso que a dinâmica capitalista fez com que esquecêssemos. Então, pensar a cidade é pensar outra vez, com uma outra chave, os ensinamentos do mundo moderno. A associação é a experiência mais importante que hoje a cidade pode ter. É por ela que vem uma compreensão coletiva da nossa felicidade”, destacou.

 

Para assistir, acesse: https://aberto.uia2021rio.archi/debates/abertura/

 

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