O Minha Casa Minha Vida investiu até hoje R$ 340 bilhões na produção de 4 milhões de casas, um dos maiores investimentos do planeta. Mais de 50% dessas moradias têm problemas construtivos. Logo, só metade das casas funciona. Deste conjunto, somente 1,2 milhões de unidades destinam-se à faixa 1 (quem tem renda de zero a três salários mínimos), exatamente o público mais vulnerável e que termina ocupando imóveis ociosos. Com esse valor, em conta hipotéticas, seria possível reformar 8.500 prédios como o que desabou em São Paulo, cuja obra era estimada em R$ 40 milhões para 14 mil metros quadrados.
Deste modo, teria atendido 1,5 milhões de famílias, que poderiam morar na área central, perto de empregos, transporte, serviços públicos e cultura, e mudaria o cenário de abandono dos centros históricos.
O Rio de Janeiro fez um grande esforço nos últimos anos em transformar a região portuária e, mesmo assim, permanecem ociosas inúmeras propriedades públicas, como o icônico A Noite, na Praça Mauá. Cerca de 60% dos terrenos da área pertencem à União e, mesmo assim, a prefeitura precisa comprá-los, em valores de mercado, para desenvolvê-los.
O Ministério das Cidades é um engodo. Nenhuma cidade brasileira aplica o IPTU progressivo. Não há política habitacional em nenhum lugar. Os líderes dos movimentos de luta pela moradia são aplaudidos pela intelligentsia universitária, e ambos só sabem fazer luta política. Pessoas vivem e morrem na mesma condição precária. O governo progressista foi um retrocesso.
Não faltaram recursos ao Brasil. Não faltou bom relacionamento entre governo e setor privado. Faltou visão, bom senso e planejamento urbano. Faltou coragem de encarar o desafio de restaurar o tecido social nos centros urbanos, combatendo guetos de pobres e ricos e reabilitando o patrimônio cultural para ser alicerce de uma nova urbanidade. Faltou século XXI.
Urbanismo e política habitacional são os temas mais ignorados por políticos e governantes, mas todos se interessam pelo mercado imobiliário e por obras. Falta vergonha na cara.
* Washington Fajardo é arquiteto e urbanista, conselheiro suplente do CAU/BR pelo RJ
Fonte: O Globo