O arquiteto Diébédo Francis Kéré, vencedor do Prêmio Priztker 2022, vem sendo celebrado pela sua capacidade de construir obras contemporâneas com materiais locais, servindo ao futuro de comunidades de menor renda. No Brasil, uma arquiteta e urbanista de São Paulo também está se destacando pela sua abordagem humanitária da Arquitetura e Urbanismo. Quem diz isso é o próprio Francis Kéré.
Em um vídeo de 2020, Francis Kéré mandou uma mensagem de incentivo à arquiteta Ester Carro, que lidera o projeto Fazendinhando, movimento de transformação física, cultural e social que atua no Jardim Colombo, comunidade que faz parte do Complexo de Paraisópolis (SP), a maior favela do país.
“Você é uma privilegiada como eu fui. Quando poderia ter ido trabalhar em qualquer lugar e viver a vida normal de uma arquiteta, você decidiu voltar para o lugar onde nasceu para servir à sua comunidade. É a melhor coisa que você pode fazer.”
Diébédo Francis Kéré, vencedor do Prêmio Priztker
Com o projeto Fazendinhando, Ester ajudou a transformar antigo lixão em parque multicultural. Em menos de quatro anos – ao lado da União de Moradores, Arq.Futuro e empresas privadas – a ONG reformou mais de 40 ambientes precários, revitalizou várias vielas e escadarias, capacitou mulheres nas áreas de gastronomia e construção civil e desenvolveu várias atividades culturais, educativas e socioambientais.
“O Francis Kéré é minha principal referência, é muito forte tudo que ele fala. Sempre quis ter a referência de um arquiteto que nasceu em uma comunidade, que havia feito Arquitetura e retornado para seu local de origem, eu nunca conheci ninguém assim”, afirma Ester.
Segundo ela, muitos projetos realizados em Parisópolis são baseados em conceitos usados por Francis Kéré. “Os projetos dele trabalham muito com material local. Na Fazendinha, nós utilizamos pneu para contenção, utilizamos entulho e plantamos hortas hidropônicas”, afirma.
Outro exemplo é a escuta ativa da comunidade e o uso de mão de obra local. “A gente quer que a comunidade se envolva e participe. Temos esse eixo muito forte voltado para a sustentabilidade.”
CONEXÃO DE IDEIAS
Francis Kéré ficou conhecendo o trabalho de Ester Carro por meio de u amigo em comum, o arquiteto brasileiro Miguel Pinto Guimarães. Miguel entrevistou Kéré para o seu livro “44 em Quarentena”, sobre a cidade pós-pandemia. Os dois chegaram a participar junto do programa “Conversa com Bial”, da Rede Globo.
Miguel então contou para Kéré sobre o trabalho de Ester, e a identificação foi imediata. Na mensagem enviada para a colega brasileira, Kéré lembrou que, para encontrar um diamante, é preciso antes escavar a terra e mexer na lama.
“Se você consegue fazer essas pessoas felizes, se você consegue transformar esse lixão em um lindo lugar de encontro, então você encontrou o seu diamante”, disse o arquiteto.
Ester disse que se emocionou quando soube que Kéré havia hangado o Prêmio Pritzker. “Chorei, chorei muito. Foi um choque muito grande para mim, porque eu estava com muitas dúvidas e incertezas sobre o mei trabalho, pensando se eatava no caminho certo.”
“Vitória foi do Keré, mas foi nossa também, de nós que acreditamos no poder transformador da Arquitetura e Urbanismo. Se ele conseguiu levar acesso à água para a comunidade, se ele conseguiu construir uma escola primária, se ele conseguiu trabalhar com processo participativo, por que nós não vamos conseguir também?
Ester Carro, arquiteta e urbanista.
Com a esperança e inspiração renovadas, Ester segue trabalhando. Hpje ela está envolvida na reforma de uma moradora do Jardim Colombo, com materiais reutilzados de ambientes da Casa Cor São Paulo. “Queremos, como Kéré, incorporar a reutilização de materiais ao mesmo tempo em que desenvolvemos projetos com cada vez mais qualidade arquitetônica”, afirma.